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O Deus das Moscas| o medo destrói a razão



O Deus das Moscas de William Golding é uma interessante reflexão sobre a origem do mal, sobre o caos e sobre o medo. a partir de um núcleo de crianças que sobrevivem a um acidente de aviação numa ilha deserta gera-se uma sociedade que tem dificuldade em se organizar. o medo, encarnado numa fera imaginada, destrói por completo a união dos pequenos, assim como a capacidade de pensar, libertando todo o mal, todo o ódio que até ali se havia acumulado. é um livro duro, que está magnificamente escrito para nos dar um soco na alma.

"-Imagina tu! Pensar que a Fera era alguma coisa que se poderia caçar e matar! - (...) - Tu sabias, não é verdade? Eu sou parte de ti próprio. Aproxima-te, aproxima-te ainda mais! Sou eu o motivo por que não se pode ir mais além? Porque é que as coisas são o que são?"
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o tédio| esse miserável tédio

"Descobre que compreende o tédio da sua existência, em que cada caminho é uma improvisação, e uma considerável parte do tempo em que está acordado é consumida em ver onde põe os pés."

William Golding em O Deus das Moscas

é isso. sacanagem de olhos que nos fogem do lugar, para se concentrarem em algo tão fútil como o solo, como se fizesse mal algum tropeçarmos, cairmos, falecermos, virarmos húmus.
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que admirável mundo novo?



Brave New World, de Aldous Huxley, apresenta-nos uma sociedade "perfeita" onde "toda" a gente é feliz, incentivada a ser feliz, obrigada a ser feliz, através de diversos mecanismos de condicionamento, aquilo a que hoje se poderia chamar programação. à parte a história, bem conhecida de muitos, fica lançada a questão "o que é mais importante? a felicidade ou a liberdade?", para além da mais negra e sombria "não é também o desejo da liberdade fruto de programação? e se assim for, será a liberdade livre?". uma das possíveis respostas é a existencialista, a de Sartre e amigos, segundo a qual, a liberdade só pode existir quando o ser está condicionado: são os condicionamentos que dão ao indivíduo a liberdade.

voltando ao livro, é um romance muito pessoal, muito importante para a reflexão e para o auto-conhecimento. um livro fundamental para a construção completa do indivíduo.

ps:. sintam-se livres para dar a vossa opinião ou, até, colocar novas pergguntas.
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"A morte não espera nem atende. É estúpida. Primeiro é estúpida, depois é incompreensível. É tremenda porque contém em si mistificação ou beleza. Absurdo ou uma beleza com que não posso arcar. O nada ou uma coisa que a minha imaginação não atinge."

Raúl Brandão em Húmus

Por falta de disponibilidade não vou acabar de ler o livro, mas é uma interessante reflexão sobre a morte e o marasmo da vida.
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"if a body catch a body coming through the rye"



"I am a kind of paranoid in reverse. I suspect people of plotting to make me happy."
- J.D. Salinger


Recentemente "celebraram-se" os 30 anos passados sem John Lennon. Assassinado a 8 de Dezembro de 1980, em frente ao edifício Dakota, por um fã que, horas antes, havia visto o seu exemplar do primeiro álbum de Lennon num espaço de cinco anos, Double Fantasy, autografado, no mesmo sítio em que Lennon agonizaria e perderia 80% do seu sangue. Mark Chapman diz ter sido inspirado pelo livro The Catcher in the Rye ( À espera no centeio) de J.D. Salinger.

No 9

O livro de Salinger conta a história, na primeira pessoa, de Holden Caulfield. Holden vê-se expulso de Pencey, a última escola para que havia sido transferido. Decide esperar num hotel até que os pais recebam a carta a dar conta da sua expulsão. Nesta espera conhecemo-lo em pormenor, aprendemos que vê em cada pessoa falsidade estampada, ou, em vez disso, ignorância. Vemos a forma como, ainda assim, Holden convive com esses mesmos "phonies". Sentimos o desajusto de Holden no mundo. Naturalmente ele dá-se conta da sua falsidade, dos defeitos que vê nos outros, ainda assim, justifica-a. A obra não acaba sem ele reconhecer a falta que sente de todos os hipócritas que conheceu.

No 9

Do ponto de vista formal, The Catcher in the Rye é fluído, adaptado à linguagem de um jovem, através da, por exemplo, adopção do calão. De uma ponta da obra à outra parece que estamos dentro da cabeça de Holden. Compreendem-se todas as suas acções, todos os seus pensamentos, ainda que incoerentes ou desajustados.

No 9

Enquanto que para alguns críticos esta obra constitui uma crítica aos jovens, ou pelo menos um retrato da juventude que não conhece o seu lugar no mundo, par mim é mais que isso, é antes um exorcismo de Salinger, através do qual, liberta a sua opinião sobre o mundo, sobre as pessoas, o quanto são falsas, o quanto é falsa toda a estrutura da sociedade da época (sobrando para a actualidade). Interpreto isto do isolamento no qual Salinger se deixou cair depois de escrito este livro, resposta mais perfeita para o problema de Caulfield seria impossível.

No 9

É pena que Chapman não tenha interpretado este romance da mesma forma que eu. Na sua loucura, identificou-se com a obra, relendo-a até ao esgotamento da escassa sanidade. Vendo a hipocrisia espalhada na cara do seu ídolo, decidiu que o melhor era acabar com ela. Acabou com um dos maiores músicos da história, ainda que dele não se esperasse muita mais música. Acabou com um símbolo da paz que, hipocritamente ou não, ainda podia fazer muita coisa pelo mundo, e pelos seus filhos.

No 9
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leituras 4 - O Senhor Ventura - Miguel Torga



Para além de prodigioso poeta e de grande homem Miguel Torga também é um incrível romancista. Apesar de poucas obras, romances, os que escreveu, valem o suficiente para o provar.

O Senhor Ventura é uma obra sobre um homem que desde sempre fora insubmisso, desrespeitador da lei e tivera uma sede enorme por liberdade. Características que o levaram a ser enviado para Macau, visto não respeitar quaisquer horários na tropa. Este ex-pastor faz vida no oriente onde anda constantemente em busca de algo, que nunca chega a encontrar, envolvendo-se em muitas ilegalidades, participando em muitos crimes. Regressa um dia a Portugal, onde ironicamente ganha a paz (nunca manifestara ou sentira vontade de regressar) que nunca teve, mas não para sempre. A obra não acaba aqui, mas tentei-me reduzir ao mais elementar, apesar de ser um romance que não chega às 100 páginas.

Um romance curto, mas carregado de emoções. E bem ao estilo de Torga, carregado de Portugal, mesmo quando a acção está bem longe.

"Não me resigno à ideia de ter vindo à luz neste tempo e numa terra durante séculos inquieta de descobrir e saber, e depois tragicamente adormecida para tudo o que não seja olhar-se e resignar-se. Parece-me um castigo imerecido do destino e da história."

"Eles eram, na sua letra rude e na sua sinceridade rude, uma imagem viva da terra rude que os viu nascer."

"Contra todo o bom senso, era novamente o perigo e a liberdade que lhe apeteciam. Eram ondas desmedidas e pesadas, e terras sem sossego e sem carinho que o seu corpo desejava enfrentar."

"Os conselhos da amiga chinesa só prestavam para quem tivesse nascido no Celeste Império. Para gente da Ibéria, a calma, a prudência, e tudo quanto defende um homem das fervuras do sangue, eram palavras vãs."

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leituras 3 - o velho que lia romances de amor - Luis Sepúlveda



Sou um confesso admirador da literatura sul americana. Aprecio um não sei quê de transparência, simplicidade e clareza. Se calhar estou só a generalizar, mas em todos os livros que li desta rota, têm em si algo de único.

Mais do que um livro sobre romances de amor é uma obra de amor à floresta, mais concretamente à floresta tropical, a Amazónia, esse paraíso que está cada vez mais em vias de extinção.

"Quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repetia-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também podia ser bela."

"Antonio José Bolívar ocupava-se de as manter à distância, enquanto os colonos devastavam a floresta construindo a obra-prima do homem civilizado: o deserto."

"... e dos seus romances, que falavam do amor com palavras tão bonitas que às vezes lhe faziam esquecer a barbárie humana."
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leituras 2 - Contos Poe.liciais



Edgar Allan Poe é um dos escritores mais célebres da língua inglesa. Poeta que viveu no século XIX e morreu com 40 anos, ficou notório pelos seus poemas e contos, e também por ter inventado (assim se crê) o género policial.

Antes de Poirot ou Sherlock Holmes, já Dupin investigava e resolvia quebra-cabeças com distinção. Não de uma forma tão detalhada e narrada, num estilo mais preocupado com a explicação do raciocínio Poe lança as primeiras cartas, que marcarão a história da literatura.

É de realçar o conto O Mistério de Marie Rogêt que Poe escreveu a partir de uma história real. Este serviu-se unicamente dos jornais para escrever. O mais é incrível é o facto de que tempo depois de este escrever o conto, duas pessoas, uma das quais com correspondência na obra, envolvidas no caso confirmaram a conclusão geral e até mesmo os seus principais detalhes hipotéticos.

Os Crimes da Rua Morgue
"Sinto-me contente por o ter batido no seu próprio terreno. Não obstante, que não tenha podido deslindar este mistério, nada tem que cause espanto, e é mesmo menos singular do que ele julga, porque, na verdade, o nosso amigo perfeito é um pouco demasiado fino para ser profundo."

A Carta Roubada
"Contesto especialmente o raciocínio extraído do estudo das matemáticas. As matemáticas são a ciência das formas e das quantidades; o raciocínio não passa da simples lógica aplicada à forma e à quantidade. O grande erro consiste em supor que as verdades a que se chama puramente algébricas são verdades abstractas ou gerais.

O Mistério de Marie Rogêt
"A massa do povo considera como profundo só aquele que emite contradições picantes da ideia geral. Tanto em lógica como literatura, é o epigrama o género mais universal e imediatamente apreciado. Em ambos os casos é o género de mérito mais baixo."
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leituras



"Não sabia que a liberdade não é uma recompensa, nem uma condecoração que se festeje com champanhe. Nem, aliás um presente, uma caixa de bombons para lamber os beiços. Oh!, não, é uma estopada, pelo contrário, e uma corrida de fundo, bem solitária, bem extenuante. Nada de champanhe, nada de amigos que ergam a sua taça, olhando-nos com ternura. Sozinhos numa sala sombria, sozinhos no banco dos réus, perante os juízes,e sozinhos a decidir e perante nós mesmos ou perante o juízo dos outros. Ao cabo de toda a liberdade, há uma sentença; eis porque a liberdade é pesada de mais, sobretudo quando se sofre de febre, ou nos sentimos mal, ou não amamos ninguém."
Albert Camus em A Queda
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